Aprender estratégias para comunicar com eficácia nas redes é importante, mas é igualmente essencial entender como e por que isso ocorre. Este curso pretende abrir as ‘caixas pretas’ das plataformas e algoritmos para visibilizar como esses aparatos influenciam na produção da verdade e das identidades políticas hoje, através do estudo de caso da ascensão da extrema direita no Brasil. Abordaremos o problema a partir de duas dimensões articuladas: uma de diagnóstico, com base em pesquisas multidisciplinares de ponta sobre o tema; e outra mais aplicada, com recomendações sobre atuação política em ambientes digitais. Cada aula trabalhará uma dimensão da convergência tecnopolítica entre plataformas e extremismo.
O que você vai aprender
O curso inicia apresentando um dos principais modos pelos quais as plataformas influenciam a vida social e política: através da aceleração do tempo. Os algoritmos embutidos no design das plataformas têm, via de regra, um viés de operação em tempo real, cujo objetivo não-declarado é conduzir o usuário a um estado de influenciabilidade – a base do modelo de negócios da indústria tech. Este estado mental prepara o terreno para a atmosfera de ameaça e crise permanente na qual vicejam os discursos da extrema direita. Além do viés temporal, mostraremos como as plataformas desorganizam os parâmetros do mundo pré-digital por meio do que a literatura chama de “colapso de contextos”, ou seja, uma confusão de fronteiras entre categorias estruturantes do mundo pré-digital como público e privado, fato e ficção, autenticidade e fraude, liberdade e manipulação.
Esta aula abordará o modo como novas identidades políticas são formadas através da mediação dos algoritmos. Em 2018, a topologia fractal e não-linear das novas mídias cibernéticas propiciaram a produção de públicos caleidoscópicos onde cada segmento, e no limite cada usuário, recebia uma imagem personalizada de Jair Bolsonaro – ele era, ao mesmo tempo, um e muitos. Como o viés de confirmação dos algoritmos entrega ao usuário realidades que tendem a confirmar suas pré-concepções, muitos passaram a acreditar piamente que a sua imagem do real era a única verdadeira – que os ‘cidadãos de bem’ eram de fato o ‘povo brasileiro’. Enquanto isso, por trás das telas, acontecia algo bem diferente. Os usuários eram desagregados em fragmentos de comportamento, que são então agregados (“clusterizados”) com os de outros usuários, induzindo os indivíduos a seguirem o comportamento global dessas “multidões” digitais indivisíveis. Discutiremos como metáforas como gado ou robô não estão de todo equivocadas, pois a cibernética de fato não diferencia humanos de animais ou máquinas, pois o que interessa é o comportamento externo e a possibilidade de encontrar nele padrões que o tornem previsível e controlável.
Os usuários da internet não nascem todos iguais: há seguidores e seguidos, influenciadores e influenciados. Na medida em que as plataformas disponibilizam milhões de usuários em estado de influenciabilidade, essas multidões online podem ser agenciadas por agentes (visíveis ou camuflados) que sabem como o ambiente funciona, e que usam os algoritmos a seu favor. Nesta aula, discutiremos como a atuação tática nos ambientes digitais se dá por meio do que a literatura sobre guerra híbrida chama de “abordagem indireta”. Recapitularemos as raízes da internet na “cibernética das máquinas” durante a Segunda Guerra e a Guerra Fria, mostrando como a lógica da guerra ainda está presente no modo como os algoritmos interpelam os usuários humanos. Mostraremos, com base no caso do Telegram no Brasil, como a topologia complexa da internet de hoje se bifurca em camadas de superfície (redes sociais, mídia do mainstream) e “públicos refratados” operando em subterrâneos como aplicativos de mensagens, o que maximiza a ação de guerrilhas digitais.
Muitos de nós já tivemos a estranha sensação de que a internet está produzindo mundos paralelos que nos aparecem, muitas vezes, como mundos invertidos. Nesta aula, explicaremos que essas impressões subjetivas têm uma base objetiva e material no modo como as plataformas induzem processos dialéticos que a antropologia qualifica de ‘antiestruturais’. Esses processos, que são muitas vezes entendidos pelos próprios usuários através de metáforas como a red pill do filme Matrix ou o rabbit hole de Alice no País das Maravilhas, operam simultaneamente em várias escalas: na construção tática de narrativas, no design de memes, na cognição individual, em padrões agregados de comportamento de rede, na agência algorítmica. Nesta aula, trabalharemos essa ideia em profundidade através da estrutura e a dinâmica das teorias da conspiração, com base em estudos interdisciplinares sobre o tema.
A última aula abordará como os públicos da extrema direita operaram durante o governo Bolsonaro, e o que ocorreu com eles diante da derrota eleitoral em 2022. Trataremos de problemáticas mais recentes, como o aumento do extremismo em atos antidemocráticos, massacres em escolas, e o crescimento do neonazismo no Brasil. Com base em um estudo de caso da invasão dos prédios dos três poderes em 8 de janeiro de 2023, buscaremos responder quando e como a violência online transborda para o off-line. A aula fecha o curso discutindo as principais frentes de ação para combater o recrudescimento do extremismo no Brasil: regulação de plataformas nos âmbitos do Legislativo, Executivo e Judiciário; educação midiática e letramento digital; estratégias de comunicação em redes e táticas de guerrilha digital.
Conheça sua professora
Letícia Cesarino
Letícia Cesarino é antropóloga com doutrado na Universidade da Califórnia (Berkeley), professora e pesquisadora na Universidade Federal de Santa Catarina. Autora de O Mundo do Avesso: Verdade e Política na Era Digital (UBU Editora, 2022).
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