Nas primeiras décadas do século XXI, a globalização capitalista permanece conectando de modo cada vez mais intenso as diferentes sociedades de um globo. No entanto, diferente da impressão inicial, a globalização não significou o fim das fronteiras, e muito menos eliminou o papel os Estados Nacionais: pelo contrário, estas instituições seguem sendo fundamentais nos processos de integração e regionalização tanto econômica, quanto cultural. Quando situamos este processo na longuíssima duração, vemos que estas dialéticas (integração x desintegração, conexão x fronteiras, mundialização x regionalização) são constantes da História, e os dilemas que enfrentamos atualmente, em grande medida, já foram vividos, em menor escala, por diversas sociedades do passado. O objetivo deste curso é explorar as aventuras e desventuras das sociedades da Antiguidade diante de suas próprias globalizações. As regiões que são foco deste curso são o Mediterrâneo e o Oriente Próximo, abarcando uma área que se estende do Afeganistão a Portugal; o período, do início da Idade do Bronze (c. 3200 a.C.) à expansão islâmica (c. 700 d.C.). Ao longo das aulas, discutiremos as histórias das redes urbanas imperiais mesopotâmicas, egípcias, fenícias, gregas e romanas, inserindo-as em seus contextos maiores: estas sociedades não estavam isoladas, mas interagiam por meio de campos econômicos, políticos e culturais entre si e com as sociedades não-urbanas dos arredores, que forneciam não apenas matérias-primas e força de trabalho, mas também limites e fontes de renovação.
O que você vai aprender
- Esta aula explora o desenvolvimento da História Antiga como campo do conhecimento acadêmico, suas vinculações à visão eurocêntrica da História Universal no século XIX, os grandes debates do século XX, e a grande crise do eurocentrismo na passagem para o século XXI, que motivou o aparecimento de novas formas de se fazer a história da Antiguidade, especialmente em diálogo com os Estudos Globais. Como fio condutor, a aula persegue a formulação de modelos explicativos para a formação e crise das redes urbanas e dos impérios, tais como os modelos do "modo de produção asiático" e do "escravismo antigo", assim como suas alternativas contemporâneas.
- Esta aula discute as múltiplas experiências de urbanização na História, criticando o paradigma evolucionista que estabelece uma sucessão quase imediata entre agricultura, sedentarismo, cidades e Estado. Diante de um quadro extremamente variado, o surgimento das cidades na Mesopotâmica (em particular a cultura Uruk) é compreendido a partir de quadros ambientais e políticos particulares.
- Esta aula aborda os debates em torno da natureza do estado acadiano na Mesopotâmia, e do estado faraônico no Vale do Nilo, com ênfase na construção da imagem do rei, a construção de monumentos e a variação nas relações com templos, com poderes locais e com populações conquistadas.
- Esta aula discute a formação das cidades em Creta, na passagem do terceiro para o segundo milênio a.C., e no continente e ilhas gregas, em meados do segundo milênio a.C. A comparação entre os dois casos demonstra a formação de dois tipos distintos de urbanização, com e sem muralhas; a partir disto, a aula discute os contextos e significados de cada tipo.
- Esta aula explora os debates em torno colapso do "sistema regional da Idade do Bronze" (que incluía quatro regiões centrais no Anatólia, Egeu, Mesopotâmia e vale do Nilo, e diversas regiões periféricas) em torno do século XII a.C., discutindo como este "fim do mundo" significou não o fim das conexões, mas a emergência de formas subalternas de integração, centradas, especialmente, na rede urbana cananéia-fenícia.
- Esta aula discute a formação dos impérios universais no Oriente Próximo (neoassírios e neobabilônios em particular), em paralelo à expansão da urbanização no Mediterrâneo a partir das redes fenícias, gregas e etruscas. O foco está centrado nos modos como impérios e cidades constroem e mantem a coesão de suas redes e campos de atuação.
- Esta aula discute a construção da centralidade do Império Persa Aquemênida no período entre os séculos VI e IV a.C., ao redor do qual orbitam redes urbanas e redes nômades do Mediterrâneo, da Ásia Central e do subcontinente indiano. Como estudo de caso, a aula compara a representação dos povos conquistados na iconografia persa com a representação dos persas na iconografia das cidades gregas.
- Esta aula discute a expansão da cultura grega em função da construção do sistema imperial macedônico, centrado nas três grandes monarquias da Macedônia, do Egito e da Ásia, ao redor das quais orbitavam diversos reinos, ligas urbanas e confederações nômades. Tal sistema inseriu no Mediterrâneo formas de integração já consolidadas no oriente próximo, especialmente em torno das cortes imperiais, assim como introduz instituições cívicas mediterrânicas no oriente próximo, em particular a estrutura das pólis e a cunhagem.
- Esta aula explora a construção em paralelo dos impérios da república de Roma (no Mediterrâneo) e do reino da Pártia (no Oriente Próximo), assim como as alterações profundas nas estruturas imperiais após o século III d.C., marcado pela maior centralidade do zoroastrismo no Oriente Próximo (agora dominado pelo império persa sassânida) e do cristianismo no Mediterrâneo.
- Esta aula sintetiza os debates e conclusões das aulas anteriores, propondo uma comparação entre os traços das globalizações antigas e a globalização capitalista contemporânea, com destaque para o papel exercido por cidades e impérios na antiguidade, e pelas cidades, estados nacionais e instituições supranacionais no século XXI.
Conheça seu professor
Fábio Morales
É professor de História Antiga da Universidade Federal de Santa Catarina. Fez graduação em História na Universidade de São Paulo. No mestrado, pesquisou a história da democracia ateniense, tendo recebido o Prêmio História Social de melhor dissertação no ano de 2009, e que resultou no livro "A democracia ateniense pelo avesso" (Edusp, 2014). No doutorado, pesquisou as transformações urbanas em Atenas diante da incorporação ao império romano, pesquisa que recebeu o Prêmio História Social de melhor tese no ano de 2015, e está sendo elaborada para publicação de livro. Tem 20 anos de experiência docente, tendo atuado na Educação Básica entre 2001 e 2010, e na educação superior desde 2010, período no qual foi professor de História Antiga e Arqueologia na PUC-Campinas (2010-2017) e na Universidade Federal de Santa Catarina (2018-presente). É coordenador do Mithra - Laboratório de História Antiga Global (UFSC), além de ser pesquisador do Laboratório de Estudos sobre o Império Romano (USP), o Grupo de Estudo Subalternos e Populares na Antiguidade (USP), o Centro Ciro Flamarion Cardoso sobre o Pré-Capitalismo (UFF), Laboratório de Migrações e História Ambiental (UFSC) e do Grupo de Estudos sobre o Heraion de Delos (UNIFESP). Fez parte de missões arqueológicas no Brasil e na Grécia, e atualmente conduz projeto de pesquisa sobre as conexões ambientais e históricas da ilha de Delos no período helenístico.
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