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Feminismo para Homens

Milly Lacombe e Paola Lins
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Feminismo para Homens
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O curso tratará de como a teoria e as tecnologias do feminismo podem servir para a emancipação dos homens e explorará as razões pelas quais o machismo e a misoginia aprisionam e limitam os homens no exercício de suas subjetividades e potências. Vamos começar com um debate sobre a distinção entre sexo e gênero, e como a ideia do que é ser mulher e ser homem, incluindo o binarismo, é uma construção sócio-histórica que aprendemos a naturalizar como biológica. Passaremos à discussão sobre como a construção do desejo e da sexualidade feminina, principalmente heterossexual, é atravessada por violência, assédio, abuso e estupro.Vamos conduzir uma reflexão sobre as contribuições do feminismo para refundar as bases do desejo e da sexualidade, propondo uma visão do sexo como parte fundamental da subjetividade humana, não apenas das mulheres mas também dos homens. A emancipação sexual pensada como algo a ser compartilhado entre todos os gêneros e todos os corpos, inclusive os masculinos. Do desejo vamos para o trabalho, remunerado e não remunerado. Trabalho doméstico, carga mental, como o homem pode se implicar nessas causas e o que tira de positivo disso. Por fim, a família: o papel do homem, as relações no interior dessa instituição, examinar até que ponto o machismo veda aos homens o direito de exercitar uma paternidade plena, uma vez que os homens são constrangidos a ocupar, senão exclusivamente, majoritariamente o papel de provadores.

O que você vai aprender

Introduzir o debate sobre a distinção entre sexo e gênero, e como a ideia do que é ser mulher e ser homem, incluindo o binarismo, é uma construção sócio-histórica que aprendemos a naturalizar como biológica. Papéis sociais (de cuidado ou de trabalho braçal, por exemplo) não estão inscritos nos genes e nas características corporais, mas são aprendidos nas famílias, escolas e ambientes coletivos. Identificar o modo pelo qual, dentro do sistema patriarcal, as diferenças sexuais foram convertidas em desigualdades, e assim a natureza se tornou justificativa para o tratamento injusto destinado às mulheres. Mulheres foram aprisionadas em papéis supostamente naturais, e assim o cuidado e a maternidade se tornaram o “destino biológico” das mulheres, desconsiderando o fato de que qualquer ser autônomo tem o direito de escolher o próprio destino. Discutir o papel da ciência na construção do binarismo sexual e na naturalização das diferenças entre homens e mulheres, principalmente através da genitalização das diferenças sexuais. Incluir a equação de raça e classe para pensar as especificidades desse binarismo. Abordar a interssexualidade e a transsexualidade como existências que desestabilizam o binarismo sexual, revelando o que existe para além dele. Pontuar como a genitalizacão do gênero também limita a experiência da masculinidade, que fica muito vinculada ao pênis e seus ideais limitantes de força bruta, potência e virilidade..

Discutir como a experiência do desejo e da sexualidade feminina, principalmente heterossexual, é atravessada por violência, assédio, abuso e estupro. Ainda mais violenta conforme o vetor racial seja considerado, assim como a vulnerabilidade da precariedade econômica. Apresentar o debate sobre o corpo da mulher como propriedade masculina (do pai, dos irmãos, do marido, do Estado patriarcal), no qual a expressão do seu desejo e da sua sexualidade só são permitidos para satisfazer o homem (ou um ideal de masculinidade patriarcal), dentro dos limites do “círculo mágico” da sexualidade considerada socialmente como “boa, natural, normal, sagrada”, como propôs a antropóloga Gayle Rubin. Discutir o que é consentimento e sobre como ele não pode se tornar uma ferramenta para coagir as mulheres (a entregarem um sim, onde havia um não, ou uma dúvida). Analisar as articulações entre sexo, sexualidade e poder, desvelando a falácia da “liberdade sexual” absoluta, ao mostrar as determinações políticas do desejo, que por vezes se expressam nas desigualdades de raça, classe, idade, entre outras. Pensar a pornografia como campo de tensões entre sexo, vício, mercado, autoconhecimento e busca pelo prazer. As feministas lançamos a seguinte pergunta: sexo como é feito hoje é satisfatório para quem? Refletir sobre as contribuições do feminismo para refundar as bases do desejo e da sexualidade, propondo uma visão do sexo como parte fundamental da subjetividade humana, não apenas das mulheres mas também dos homens. A emancipação sexual pensada como algo a ser compartilhado entre todos os gêneros e todos os corpos, inclusive os masculinos.

Discutir como a experiência do desejo e da sexualidade feminina, principalmente heterossexual, é atravessada por violência, assédio, abuso e estupro. Ainda mais violenta conforme o vetor racial seja considerado, assim como a vulnerabilidade da precariedade econômica. Apresentar o debate sobre o corpo da mulher como propriedade masculina (do pai, dos irmãos, do marido, do Estado patriarcal), no qual a expressão do seu desejo e da sua sexualidade só são permitidos para satisfazer o homem (ou um ideal de masculinidade patriarcal), dentro dos limites do “círculo mágico” da sexualidade considerada socialmente como “boa, natural, normal, sagrada”, como propôs a antropóloga Gayle Rubin. Discutir o que é consentimento e sobre como ele não pode se tornar uma ferramenta para coagir as mulheres (a entregarem um sim, onde havia um não, ou uma dúvida). Analisar as articulações entre sexo, sexualidade e poder, desvelando a falácia da “liberdade sexual” absoluta, ao mostrar as determinações políticas do desejo, que por vezes se expressam nas desigualdades de raça, classe, idade, entre outras. Pensar a pornografia como campo de tensões entre sexo, vício, mercado, autoconhecimento e busca pelo prazer. As feministas lançamos a seguinte pergunta: sexo como é feito hoje é satisfatório para quem? Refletir sobre as contribuições do feminismo para refundar as bases do desejo e da sexualidade, propondo uma visão do sexo como parte fundamental da subjetividade humana, não apenas das mulheres mas também dos homens. A emancipação sexual pensada como algo a ser compartilhado entre todos os gêneros e todos os corpos, inclusive os masculinos.

Apresentar o panorama das desigualdades entre mulheres e homens no mercado de trabalho: salários proporcionalmente inferiores para desempenhar funções equivalentes, falta de rede de apoio estatal para profissionais mães, assédio moral e sexual etc. Considerando os modos pelos quais as desigualdades se ampliam conforme especificidades de raça e classe. Debater os tipos de violência simbólica a que muitas mulheres estão submetidas no ambiente de trabalho, e também em casa, tais como as que são conhecidas pelos termos em inglês manterrupting, mansplaining, bropriating, gaslighting, entre outras. Em casa, o trabalho doméstico é atrelado ao que se discute hoje como carga mental. Examinar o trabalho doméstico feminino como condição de possibilidade da reprodução da sociedade, e consequentemente do capitalismo, como nos ensinam pensadoras como Silvia Federici. É da autora a frase síntese “o trabalho doméstico não é amor, é trabalho não remunerado”, que revela uma dimensão frequentemente invisibilizada dessa atividade: o cuidado do lar “prepara” o trabalhador para o mercado e “cria” a nova geração de trabalhadores para o mesmo mercado. Debater como o corpo está para a mulher assim como o chão de fábrica está para o homem: é território de exploração e resistência. O cidadão explorado no trabalho pode chegar em casa e explorar a mulher, que por sua vez pode oprimir os filhos, num ciclo de reprodução de violência que precisa ser interrompido.

Levantar o debate sobre as desigualdades no ambiente doméstico que dizem respeito à reprodução da família. Refletir sobre quem tem direito a família no Brasil, considerando que a maior parte dos lares de mães solos no país são compostos por mulheres negras e não-brancas. Discutir quais são os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e meninas no Brasil, e como além de não serem respeitados nem pelo Estado nem pela família, precisam ser ampliados. Refletir sobre os motivos que levam às mulheres a serem consideradas as únicas responsáveis pela prevenção da gravidez, de que forma os homens passam adiante tal responsabilidade ao se recusarem a usar camisinha ou realizar uma vasectomia. Discutir como as mulheres são tratadas como cidadãs de segunda categoria ao não terem seu direito ao corpo e autonomia individual plenamente respeitados. Questionar até que ponto o homem deve opinar sobre o aborto. Examinar até que ponto o machismo veda aos homens o direito de exercitar uma paternidade plena, uma vez que os homens são constrangidos a ocupar, senão exclusivamente, majoritariamente o papel de provadores. O sonho da paternidade somente pode ser vivido fora das amarras da masculinidade tradicional. Compreender o que significa afirmar que “as feministas querem acabar com a família”. Ampliar a noção de família para que ela possa se tornar não um roteiro com papéis rígidos e violentos predeterminados, mas um espaço de amor, autoconhecimento e acolhimento.

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Feminismo para Homens

Milly Lacombe e Paola Lins

Milly Lacombe é escritora, jornalista e cronista. Trabalhou como colaboradora da Folha de S.Paulo em Los Angeles, como comentarista esportivo nos canais Sportv e Record, foi diretora de redação da revista Tpm, é colunista da Folha e do UOL e autora do romance O Ano que Morri em Nova York. Paola Lins possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestrado em Sociologia com concentração em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ e doutorado em Antropologia Cultural pelo mesmo programa de pós-graduação. Realizou pesquisa de pós-doutorado em Antropologia no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UERJ. É autora do livro "Arte e religião em controvérsia - relações entre censura, arte erótica e objetos religiosos" (2016). Atualmente é editora de resenhas da Revista Religião e Sociedade, roteirista e pesquisadora de conteúdo para produtos culturais.

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